198 Livros: Bolívia – O Delírio de Turing Camila Navarro 19/06/2014

198 Livros: Bolívia – O Delírio de Turing Camila Navarro 19/06/2014 198 Livros - BolíviaEu não fazia idéia da riqueza da literatura boliviana! Minhas pesquisas me apresentaram tantos escritores e livros contemporâneos que me pareceram interessantes! O que me entristeceu foi descobrir que muito pouco disso, quase nada, chega ao Brasil. São raros os livros bolivianos traduzidos para o português e eles não aparecem por aqui nem mesmo em espanhol. Felizmente já há muita coisa sendo publicada em versão digital, tornando o acesso mais amplo, mas no #198livros eu tenho que me ater aos livros que de alguma forma retratem o país de origem do autor, o que diminui bastante meu leque de ofertas. Pensando nisso, escolhi o escritor Edmundo Paz Soldán, autor de vários romances, e fiquei com um de seus livros publicados no Brasil: O Delírio de Turing.O Delírio de Turing - Edmundo Paz Soldán O Delírio de Turing narra uma revolução virtual travada na fictícia cidade boliviana de Rio Fugitivo. De um lado temos a Resistência, um grupo de hackers comandado pelo jovem Kandinsky que ataca sites do governo e multinacionais como forma de luta contra a globalização e políticas neoliberais. Do outro temos a Câmara Negra, um órgão governamental secreto criado na década de 70, durante a ditadura, diante das ameaças à “segurança nacional” (para não dizer ameaça ao governo). Miguel Sáenz, também conhecido como Turing, era o maior decifrador de enigmas da Câmera Negra, mas, assim como o órgão em que trabalha, se tornou obsoleto em relação ao crime cibernético. Sua filha, Flávia, é quem parece estar mais antenada com o que acontece no mundo virtual, mas estaria ela do lado da Resistência ou da Câmara Negra? O motivo da eclosão dos conflitos, que se espalham também pelas ruas de Rio Fugitivo, é o aumento da tarifa de energia elétrica, acompanhado de frequentes apagões. O episódio talvez seja uma referência aos protestos que ocorreram em Cochabamba contra a privatização do sistema de água, em 2000. O serviço de energia em Rio Fugitivo é oferecido pela multinacional Globalux, o tipo de empresa que a Resistência despreza. Pela primeira vez, pobres e ricos se unem para protestar por uma causa comum. À medida em que os protestos nas ruas se intensificam, o embate entre a Resistência e a Câmara Negra também ganha força. Um suspense para não nos deixar tirar os olhos do livro! Apesar de ter sido publicado há mais de 10 anos, O Delírio de Turing é mais atual do que nunca. Conflitos cibernéticos aumentam a cada dia e não há dúvidas de que hoje o meio eletrônico é o grande detentor de informações — Edward Snowden e WikiLeaks são provas disso. Foi interessante ver esse contexto sendo explorado na Bolívia, onde o povo é acostumado a ir para as ruas exigir seus direitos. Edmundo Paz Soldán consegue transmitir esse sentimento ativista no livro, ao mesmo tempo em que expõe alguns problemas de seu país, principalmente a desigualdade social. O Delírio de Turing levanta várias questões interessantes a respeito de política, tecnologia, consumismo, liberdade e até mesmo de relacionamentos pessoais. Foi meu primeiro contato com a literatura boliviana, mas com certeza não será o último. E vou torcer para que as editoras brasileiras se interessem por ela e publiquem mais traduções por aqui. Os leitores brasileiros só tem a ganhar! O Delírio de Turing foi publicado originalmente em espanhol, em 2003, e no Brasil em 2010, pela Editora Record. A tradução é de Bernardo Ajzenberg. Mais alguns autores bolivianos: